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Patrimônio Cultural e Lutas por Memória:

movimentos sociais, educação e cultura

 

Gabriel da Silva Vidal Cid (UFRRJ)

Andrea Lemos Xavier Galucio (UNIRIO)

 

A ampliação dos usos da memória coletiva como ativo político recolocou o patrimônio cultural como espaço de realização social, nas últimas décadas. O patrimônio cultural vem figurando em um cenário de lutas, com ação do Estado e de movimentos sociais na consolidação de uma cidadania ampliada, articulando memória e políticas afirmativas. Novas gramáticas e posturas são observadas nesse cenário, com um descentramento das narrativas e identidades, sem que memórias nacionais tradicionais deixem de ser privilegiadas (Cid e Lemos, 2022). 

 

Este cenário, razoavelmente consolidado, não é livre de reveses, figurando também perspectivas mais universais e de negativa ao reconhecimento das diferenças (Cid; Domingues e Paula; 2022). Vemos também a reverberação na cena pública de narrativas e posturas sem comprometimento com a “verdade” apresentada por estudos científicos e legitimados socialmente. Percebe-se um conjunto de setores, entendidos como públicos (Warner, 2002) ou contra-públicos (Fraser, 2022), disputando leituras da cultura da memória e de seus usos, em um cenário de guerra cultural. 

 

De modo que analistas, técnicos e educadores são desafiados permanentemente à reelaboração de suas ações, nas políticas, na organização de currículos, conteúdos formativos e organização de movimentos sociais. Interessa reunir neste Simpósio reflexões para o reconhecimento do amplo espectro das lutas sociais em torno do patrimônio cultural e da memória coletiva, assim como do protagonismo de tais reivindicações em diferentes cenários. Um dos vieses desse debate tem como base a ideia de que o processo de lembrar envolve também o de esquecer (Pollak, 1989). 

 

A temática é motivada pela busca do conhecimento crítico dos patrimônios culturais valorizados e das memórias silenciadas (Lemos; Aguiar e Alves, 2021), considerando as condições de organização de um campo de atuação. Convidamos, para a reflexão, pesquisas sobre a grande área do patrimônio cultural, em seus temas e percursos do patrimônio local, dos espaços museais, das práticas de educação em patrimônio, do trato com patrimônios sensíveis, contraditórios ou difíceis, da luta anti-autoritária, da cultura popular, da decolonialidade do saber e/ou da luta antirracista. 

 

São bem-vind@s estudantes, professores, pesquisadores, militantes e profissionais que venham refletindo sobre o uso da memória, no reconhecimento de "novos" suportes e conteúdos, em processos de musealização e patrimonialização, em experiências educativas, formais e não formais, na construção de materiais didáticos e roteiros pedagógicos. A proposta é valorizar o diálogo de diferentes áreas do conhecimento como a chamada Educação Patrimonial, Práticas de Ensino, História, Ciências Sociais, Geografia, Literatura, Museologia, Artes, Turismo e Planejamento, citando algumas delas. 

 

O Simpósio visa agrupar trabalhos sobre diferentes ambientes culturais e educativos, com referenciais teóricos e metodológicos que favoreçam: a politicidade da cultura e da educação, na temática do patrimônio cultural, a reflexão das disputas que envolvem processos de preservação e as abordagens críticas sobre as políticas de memória.

 

Referências bibliográficas 

 

CID, Gabriel; DOMINGUES, João; PAULA, Leandro. “Um governo dedicado ao homem comum e seus valores”: a cultura como objeto da política na gestão Bolsonaro. Antropolítica - Revista Contemporânea De Antropologia, 54(1), 2022a. 

CID, Gabriel. S. V.; LEMOS, A. Patrimônio, ensino e direito à memória: diálogo entre práticas. In. NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos (org.). Patrimônio, resistência e direitos: histórias entre trajetórias e perspectivas em rede. Vitória: Milfontes, 2022. 

CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia. In. Crítica y emancipación: Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales. Año 1, no. 1 (jun. 2008- ). Buenos Aires: CLACSO, 2008. 

CHUVA, Márcia Regina Romeiro. Por uma história da Noção de Patrimônio Cultural no Brasil, In. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 34, 2011. 

FRASER, Nancy. Justiça interrompida: reflexões críticas sobre a condição "pós-socialista". São Paulo: Boitempo, 2022. 

GOHN, Maria da Glória. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Edições Loyola, 2014. 

LEMOS, Andréa. Ensino de História e Políticas de Preservação: desafios das práticas de educação em patrimônio. In: CHAGASTELLES, Gianne. Ensaios de Imagens: memória e patrimônio. Rio de Janeiro: Multifoco, 2019. 

LEMOS, Andréa; AGUIAR, Leila B.; ALVES, Moema. O que a História pode ensinar em tempos de pandemia? Olhares sobre as destruições e intervenções em estátuas. In: Ivan Lima Gomes, Yussef D.S. Campos, Rafael Saddi (orgs). Tempos Remotos: ensino de História e a pandemia de Covid-19. São Paulo/Jundiaí: Paco, 2021. 

NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Diversidade e sentidos do patrimônio cultural: uma proposta de leitura da trajetória de reconhecimento da cultura afro-brasileira como patrimônio nacional. Anos 90, v. 15, n. 27, julho, Porto Alegre, 2008. 

POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p.3-15, 1989. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo/ Belo Horizonte: Companhia das Letras/Ed. UFMG, 2009. 

THOMPSON, Ana Lúcia, SOUZA, Igor Alexander Nascimento de. A educação patrimonial no âmbito da política nacional de patrimônio cultural. In: Políticas Culturais em Revista, 1(8),p.153-170,2015. WARNER, Michael. Publics and counterpublics. Public Culture, v. 14, n. 1, 2002, p. 49-90.

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